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15 de setembro 2022
Dormir para estar acordado
Leonor Cerqueira | Founder Métis – Comunicação Humanizada
Neste Dia Mundial da Paz, cujo tema se centra no racismo, nos esforços individuais e coletivos para o erradicar, convido o leitor para uma viagem a uma outra paz, sem a qual, esta forma de preconceito que mais não é que a demonstração da nossa ignorância, poderá ser desdobrado, transformado, humanizado.
Dormir para estar acordado sublinha também uma paz. Um pacto com a nossa biologia. Dar ao sono aquilo que lhe é devido. Não lhe roubar a qualidade e o tempo que nos ajudam a operar, apesar de todas as nossas incoerências e inconsistências, num maior equilíbrio. Nas condições que nos permitem sentir a paz, fazê-la acontecer ativamente e prevenir maleitas, tantas delas descritas e documentadas, embora me centre num só grupo das mesmas. As doenças da incomunicação (termo cunhado por Valentín Fuster). Nas quais o pré-conceito, o pré-juízo, sejam quais forem, moram e elevam barreiras.
Assim, se podemos considerar pacificar, o pacto de terminar com conflito, assim podemos considerar o sono, um elemento pacificador. Aquele que nos permite desligar temporária e reversivelmente da perceção consciente do ambiente. Pacificador e para todos nós necessário. E nunca tão fundamental como agora.
Num mundo onde os ambientes nos impelem para a gestão de maior número de estímulos, encontrar soluções para novos e velhos problemas com novas formas e métodos de o fazer, desempenhar com qualidade e agilidade, viver incertezas e continuar a seguir em frente, mesmo podendo cometer falhas pelo caminho, pois o erro está em acertar, mas ser lento!…enfim…mais estímulos poderíamos referir e o leitor conhece-los tão bem.
Precisamos muito do sono. Deste agente que interrompe, de forma tão natural, a nossa vida híper estimulante. E talvez, digo eu, o fator promotor de serenidade e tranquilidade ou paz interior, mais fácil de operacionalizar pois não temos de sair de casa para ir para o quarto, não temos de sair do trabalho para fazer uma sesta de 10 a 20 minutos. Não devemos carregar para o sono, estímulos que acordem o sono que nos quer adormecer, pois acionamos uma pequena guerrilha biológica com consequências nada desejáveis para o nosso bem-estar global.
Ao sono roubado, para além de outras doenças, estão associadas as da incomunicação. A comunicação nas relações humanas acontece sempre. Dependendo da forma como se comunica, poderemos criar condições para ter ralações ou relações humanas. Curiosa é a sugestão do recente estudo da Universidade de Berkeley. A perda de sono reduz a nossa generosidade. Afeta a nossa tendência a ajudar outras pessoas. A área do cérebro mais associada à cognição social e que regula a interação com os outros reduz a sua atividade (situação com reversibilidade, reposto o sono adequado). Afeta negativamente o nosso raciocínio, aprendizagem, memória, qualidade de decisões, catapulta-nos para problemas neurológicos e probabilidade aumentada de cometer erros e ter acidentes.
Precisamos de sono para cuidar, do vizinho, do colega, do irmão, do chefe, do colaborador, do filho, do pai, da mãe, e no cuidar profissional, daqueles que de nós dependem para uma melhor vida vivida. Precisamos de chegar ao sono do sonhar (sono REM). Precisamos de comunicação e não, incomunicação.
Para quem trabalha por turnos fixos ou móveis, cujo sono saltita e são beliscados os ritmos biológicos, um cuidado acrescido deverá ser considerado. Profissionais que os experimentam por inerência das suas funções, cuidam de outros, das suas seguranças, saúdes, transportes, limpeza de espaços e cidades…Precisamos de comunicação e não, incomunicação.
Levemos a sério os nossos 25 a 35 anos a dormir. Ao dormir, estamos em paz e ao acordar, mais preparados para lidar mais capazmente, com os desafios que nos chegam, nomeadamente, esbater pré-conceitos, pré-juízos, impulsividades, que nos impedem de comunicar melhor. Ou seja, em paz com outros nas suas diferenças.
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